terça-feira, 20 de abril de 2010

Guerra do Ultramar/Guerra Colonial (1961-1974)

http://www.youtube.com/watch?v=_vurLtLNefg

http://www.youtube.com/watch?v=ns7pDP-dwAg

O início do terror e os movimentos independentes:
http://www.rtp.pt/guerracolonial/?id=89&t=0#thumb89

O assalto ao Santa Maria e o 4 de Fevereiro de 1961 em Luanda:
http://www.rtp.pt/guerracolonial/?id=90&t=0#thumb90

A chegada dos primeiros contigentes a Luanda (1/Maio/61) e o terrorismo que se combate com terrorismo:
http://www.rtp.pt/guerracolonial/?id=91&t=0#thumb91

Critica a Salazar e ao Conselho de Segurança da ONU e as milícias populares de auto-defesa em Angola:
http://www.rtp.pt/guerracolonial/?id=92&t=0#thumb92

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A Questão Africana - uma outra visão





A INDEPENDÊNCIA das colónias foi uma «oferta» portuguesa ou uma conquista?  
 Ao fim de tantos anos, o tema parece esgotado. Mas não. Um Congresso, convocado para debater a guerra colonial e as lutas de libertação nas ex-colónias portuguesas, terminou ontem, em Maputo, sublinhando que Portugal perdeu a guerra colonial. Há um certo medo instalado na intelectualidade africana que se interessa pelo estudo da guerra colonial e das lutas de libertação. O receio de que a História continue a registar a interpretação - que se diz prevalecente em alguns círculos políticos e académicos portugueses - de que as independências da maioria das ex-colónias portuguesas (nomeadamente naquelas onde houve guerra, Angola, Guiné-Bissau e Moçambique) foi uma oferta de Portugal e não uma conquista.
Vinte e cinco anos depois das independências, o tema volta a interessar académicos africanos e alguns notáveis ainda vivos dos movimentos de libertação (MPLA, PAIGC e Frelimo). Porquê? «Porque é preciso desmistificar a ideia de que as independências foram concedidas por Portugal», respondeu Hélder Martins, antigo combatente da Frelimo.
O interesse científico deste Congresso de dois dias, organizado pela Universidade Aberta de Portugal e pelo Instituto Superior Politécnico Universitário de Moçambique, radicou na premissa de que, em Portugal, ainda subsiste a ideia de que, se não fosse o 25 de Abril, a guerra colonial teria prosseguido e a descolonização teria tido outro rumo.
Mas a confrontação dos pontos de vista ficou enfraquecida, devido à ausência, sem justificação plausível, dos académicos e antigos militares portugueses convidados.
«Evitar a humilhação»
O Congresso acabou, assim, por ser levado para águas muito consensuais, onde a ideia de uma descolonização «oferecida» foi destruída até ao tutano, acabando o «afro-centrismo» por derrotar o «luso-centrismo» na abordagem da guerra colonial. Em suma, o Congresso pretendeu resgatar a memória dos actores da época, para reescrever a respectiva história.
Num primeiro Congresso sobre o mesmo tema, realizado em Abril de 2000 no Instituto da Defesa Nacional, em Lisboa, os debates vincavam mais a ideia de que os movimentos de libertação nunca tiveram força suficiente para derrotar o exército colonial.
Um dos temas, em Maputo, foi «A Inevitabilidade do Recurso à Acção Armada para a Conquista da Independência». Jorge Rebelo, da Frelimo, recordou que Portugal nunca quis dialogar com os movimentos nacionalistas, porque «estava consciente de que não podia dar uma independência formal; interessava manter-se nas colónias para continuar a ter as suas fontes de receitas».
Para rejeitar a tese de que Portugal poderia ter ganho a guerra, se ela continuasse, Rebelo lembrou a «moral destruída» dos militares portugueses e a «grande ausência de motivação», que já haviam enfraquecido o exército português.
Rebelo foi mesmo mais longe, afirmando que o 25 de Abril representou também uma forma de os militares portugueses evitarem a humilhação em África: «A humilhação de uma derrota total».
Tcherno Djalo, reitor da Universidade Amílcar Cabral, de Bissau, disse que a guerra colonial foi exemplar em todos os aspectos, «uma opção de que não nos arrependemos».
«Portugal perdeu a guerra»
António Hama Thai, ministro dos Antigos Combatentes de Moçambique, sublinhou que, embora as acções armadas tivessem pouco valor militar, tinham um «grande valor psicológico». Segundo ele, por volta de 1974, Portugal já não tinha homens suficientes para mobilizar, passando a incorporar soldados locais (o que levou Samora Machel a dizer que o exército colonial substituíra cadáveres brancos por pretos).
Por outro lado, Costa Gomes falava na exaustão dos militares e Kaúlza de Arriaga defendia a criação de um comando único entre Moçambique e Angola para melhorar o «ímpeto» combativo. Estes e outros elementos foram mencionados à exaustão para sublinhar que Portugal perdeu a guerra nas ex-colónias africanas.
Como disse o sociólogo angolano, Manuel Santos Lima, da Universidade Moderna de Setúbal, «nenhuma independência é concedida. A independência é sempre uma conquista. E, no caso das ex-colónias portuguesas, ela correspondeu à evolução natural da História».
Marcelo Mosse, correspondente em Maputo.
  «Frustração»
 
Vinte e cinco anos depois das independências das ex-colónias, o balanço parece controverso. Angola vive em guerra, Moçambique chafurda na penúria, a Guiné-Bissau é um barril de pólvora étnico e São Tomé continua uma das nações mais pobres do mundo. Não chamado a debate, o tema sobre o estado das nações africanas de língua portuguesa quase ofuscou a memória da guerra.
Manuel Santos Lima, angolano, traçou este retrato: entre o país de sonho e o país possível, derrapámos no país impossível. Tcherno Djalo, da Guiné, perguntou-se, mesmo ressalvando que a liberdade não tem preço, se a luta de libertação na Guiné-Bissau valeu a pena dado que o seu país vive numa quase paz pobre.
A frustração dos antigos combatentes tem nomes. A pobreza, a guerra, a fome, despedaçaram os sonhos que os guiaram na luta, o da felicidade dos seus povos. Para Jorge Rebelo (Frelimo), os sonhos esvaíram-se porque houve «um curto-circuito. As coisas correram mal por causa da conjuntura internacional, mas também tivemos culpa. Não soubemos controlar os movimentos destruidores das conquistas das independências».
 
 
in:
Expresso